Saúde pública

Funcionários da Santa Casa desabafam e falam na crise financeira

Trabalhadores deflagraram greve na noite de sexta-feira e pedem apoio da comunidade

Paulo Rossi -

Energia elétrica cortada. Despensa vazia. Contas atrasadas. Juros acumulados. Empréstimos renegociados. Desolação. A greve dos trabalhadores da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, deflagrada na noite de sexta-feira, ultrapassa a reivindicação pelo pagamento dos salários de julho e de férias em dia e pela entrega dos vales-transportes. Os atrasos são recorrentes, se arrastam há cerca de três anos e jogam parte dos 1,1 mil funcionários em grave crise financeira. O apelo, inclusive, é para que a comunidade doe alimentos não perecíveis aos profissionais.

"Ninguém quer prejudicar a Santa Casa, mas os trabalhadores vêm acumulando dívidas, com um prejuízo enorme, e só querem ter seus direitos respeitados", resume o técnico em Enfermagem, André Pinheiro. O tom é de desabafo. A falta de datas e de número de parcelas definidos, nos últimos meses, para receber os salários - antes fragmentados em duas vezes - elimina qualquer possibilidade de planejamento. Impossível organizar o orçamento, com percentuais de pagamento que variam de um mês para o outro - contam. Até agora, apenas 24% dos valores de julho foram quitados.

Quem sente na pele, já não sabe que ginástica adotar para fazer render o dinheiro. "Em seis meses, tive a minha luz cortada duas vezes", resume a funcionária. Com quatro filhos e renda justa, a prioridade é sempre a mesma: a alimentação da família. "Nos sentimos empregados, desempregados", afirma o colega. Com a mulher desempregada e uma filha de um ano de idade, o jovem já não tem crédito no mercado: "Não tenho mais limite no cartão. Tive que renegociar o empréstimo e não tenho vergonha de pedir ajuda".

Durante o trabalho, a crise segue
Ao cumprirem os plantões, os profissionais enfrentam falta de materiais básicos, para limpeza das mãos e até de papel higiênico. Levantamentos realizados pelo Conselho Municipal de Saúde, durante o mês de agosto, identificaram leitos do Sistema Único de Saúde (SUS) desocupados na Santa Casa, enquanto no Pronto-Socorro de Pelotas (PSP) pacientes aguardavam encaminhamento. Na manhã do dia 1º, 21 leitos clínicos permaneciam vagos. Quatro dias depois, 22 leitos clínicos e 22 cirúrgicos estavam desocupados. De novo, pela mesma razão - aponta a entidade: falta de médicos para responder pelas internações.

A posição da prefeitura
O secretário de Saúde, Leandro Thurow, garante que os repasses de recursos da União e do Estado estariam em dia. Para auxiliar, na medida do possível, a prefeitura tem buscado antecipar a liberação de verbas para todos os hospitais - assegura. O Executivo deverá, inclusive, envolver-se na medição de tratativas entre a Santa Casa e o Banrisul.

Até o início da noite deste domingo (18), a greve de trabalhadores ainda não provocava impacto direto no Pronto-Socorro. Serviços, como Traumatologia e Maternidade não sofriam reflexos. "O que imaginamos que poderá sofrer reflexo, a partir de segunda-feira, serão procedimentos eletivos, que não caracterizam urgência e emergência".

Sem retorno
O Diário Popular tentou contato com o provedor João Francisco Neves da Silva, mas ficou sem retorno. Em audiência pública na Câmara de Vereadores, na tarde de sexta-feira, a Santa Casa apresentou dados que revelaram dívida superior a R$ 87 milhões, entre 181 fornecedores, 207 médicos e situações que foram parar na Justiça. Entre os principais argumentos da direção do hospital para a velha crise financeira estão a defasagem da tabela SUS.

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